domingo, 31 de agosto de 2014

Um filho da bolsa



           Nasci há exatamente 18 anos. Sou um filho da bolsa, pois fui gerado em uma bolsa amniótica, no útero de minha mãe, onde eu tinha tudo para sobreviver. Lá, desenvolvi e cresci por nove meses, numa vida fácil para mim, antes de entrar em uma nova etapa de minha vida e, então, sobreviver de uma nova bolsa.
            Quando nasci, não lembro, mas me contam os mais velhos, que minha mãe recebeu uma dinheirama do governo por meu nascimento. O dinheiro foi tanto que ela comprou até aparelho de som, celular, etc., e olhe que naquela região onde morávamos, numa propriedade de um latifundiário, só mesmo os patrões de meus pais tinham celular. Era chique, mas não tinha sinal de telefone naquela localidade, ao topo da serra, próximo a um riacho.
            O dinheiro acabou e ficamos sobrevivendo na miséria até eu completar sete anos de idade, quando fui para a escola e, em consequência disso entrar em uma nova bolsa onde voltaria a ser alimentado por outro cordão umbilical que me mantivesse na escola e o governo no poder. O negócio foi muito bom, pois estudei, ainda que não tenha aprendido nada, mas estudei e passei de ano porque os professores eram obrigados e me passarem para serie seguinte. Meus pais também acharam bom esse negócio de bolsa porque era só colocar na bolsa, parir e receber outra bolsa. E foram bolsas e mais bolsas, cada uma delas com um nome diferente. Vejam: teve até a bolsa celular. Eu continuei sobrevivendo e crescendo alimentado pelas bolsas. Na minha primeira adolescência ainda cheguei a consumir crack, mas não foi problema por que recebi o bolsa crack. Até aqui tudo bem, sobrevivi e cresci sendo alimentado pelas bolsas. Mas as bolsas furaram-se, rasgaram-se.
            Acabou. Acabaram-se as bolsas, entretanto conclui o ensino médio. Só não consigo um emprego porque não sei de nada, não aprendi nada na escola. Existem pessoas bem mais competentes do que eu, que estudaram, às vezes, até sem bolsa, ainda assim aprenderam e conseguem passar nos concursos para ingressar em um emprego.
            Hoje, maior de idade, não tenho mais bolsas, e me sinto obrigado a ir atrás de quem tem mais, inclusive do governo que deu muitas bolsas para meus pais, e eu acho que por isso esse governo de bolsas ainda continua no poder.
            Vou pela rua, tomo um celular, um relógio, uma pulseira; vou a uma agência dos Correios, de um Banco, a um comercio e pego um dinheirinho para sobreviver e, se eu sobreviver, serei preso e passarei a receber uma nova bolsa do governo, portanto sou um filho da bolsa.

Antonio Ximenes

sábado, 9 de agosto de 2014

Eu só queria ter um pai



Eu queria ter um pai
que me desse educação
que me desse carinho
pois sinto-me sozinho
neste mundo, na solidão

                                    Eu queria ter um pai
                                    que pegasse na minha mão
                                    tirasse-me desta calçada
                                    cobrisse-me na madrugada
                                    com coberta sobre um colchão.


Eu queria ter um pai
Um pai que reprime
quando se faz algo errado,
e este filho abandonado
não entrasse no crime.

                                    Eu queria ter um pai
                                    que me levasse à escola,
                                    desse-me perspectiva de vida,
                                    e curasse minha ferida
                                    livrando-me da esmola

E queria tet um pai
que me ensinasse a orar
nos momentos de tristeza;
que me levasse a uma mesa
para comigo almoçar

                                     Eu queria ter um pai
                                     que minha alegria fosse sua,
                                     compartilhando nossos momentos.
                                     E eu não vivesse em sofrimentos
                                     Neste momento, nesta rua.

Eu só queria ter um pai.

                                                                                  Antonio Ximenes


                                    


domingo, 8 de junho de 2014

Absorto na incompetência



             Quando criança, entre 09 e 10 anos de idade, fazia caieiras juntamente com meu pai no intuito de adquirir um dinheiro. Derrubava árvores, cortava-as e queimava para fazer carvão. Absolvido no meu trabalho, não tinha discernimento sobre a competência que tinha meu pai de proibir-me daquele trabalho onde eu prejudicava a natureza, e até a mim mesmo quando inalava a fumaça ou o pó do carvão, mas naquela idade eu era incompetente para dirimir meus atos.
            A vida continuou, e como sempre gostei de trabalhar, permaneci fazendo carvão, mas já na minha adolescência, além de fazer carvão também juntava esterco de gado para vender. Nos meus 14 anos de idade, acordava pela manhã, mais precisamente 4 horas da manhã e ia espantar o gado bovino, ou seja, tanger o gado para que este se levantasse, evacuasse, e, então, eu colhia suas fezes moles e punha-as para secar ao sol e depois vendê-la. Até aí não me julgava competente ou incompetente, mas um necessitado que precisava do dinheiro, ás vezes, até para comprar alimento para os irmãos, entretanto, apesar desse trabalho e outros como em oficina mecânica, vendedor de cachorro quente, de geladinho, de cigarro, de balas, etc. Então podia considerar-me uma pessoa competentíssima por saber administrar meu tempo e conciliá-lo com meus estudos, pois nunca deixei de estudar.
            Tempos passaram. Trabalhei de ajudante de pedreiro, depois pedreiro, depois recepcionista, mas não deixava de estudar, pois tinha um objetivo: sair daquela vida medíocre, embora digna, pois não havia nenhum delito inserido em minhas competências. Estava absorto na vida, galgando degraus até que um dia consegui passar em um concurso público, depois no vestibular e cursar um curso superior. Agora, com essa formação, eu estava competente, se alguém acha que ser competente é ser letrado, detentor do conhecimento, mas eu defino como competente quem é capaz, embora não letrado.
            Pois bem, no meu labor diário, assoberbado de serviços de minha competência, por não atender a uma determinação que fugia dessa competência, foi “trazido à baila” que isso seria um sinal de incompetência, e por eu não conseguir mais diferenciar o que é competência ou incompetência, aqui estou eu absorto em minha incompetência, ou competência.

Antonio Ximenes de Oliveira

sábado, 5 de abril de 2014

Escrevendo besteiras







Neste blog, escrevendo
opiniões em críticas obscuras
expresso o que penso em aventuras
no texto, na palavra-arte
que a vida pública parte.

Parte a palavra-arte
a vida pública em desastre
e comenta em sentido outro.
não de qualquer maneira,
escrevendo besteiras.

Besteiras que o crítico acha
por não entender o conteúdo,
por fraca escolaridade e
do texto não compreender
as besteira que lê.

Mas palavras são armas
que podem até matar,
sem nenhuma munição,
com a boca ou com a mão
se palavras afirmar.

Também estas besteiras
Nesta poesia escritas
São palavras não sorrateiras
que não dissimulam o que sente
o autor aqui latente

Então, palavras ferem,
cortam e aderem,
ainda que besteiras.
Palavras derrubam,
palavras levantam.
Palavras respondem:
Besteiras.
Antonio Ximenes

A distorção do entendimento do Superior Tribunal Federal transcrito na Súmula 584 sob a égide constitucional dos princípios da anterioridade e irretroatividade.

  Antonio Ximenes de Oliveira Júnior RESUMO : O presente artigo versa sobre a suposição acerca distorção entre os preceitos con...