sábado, 10 de março de 2007

A ORALIDADE NOS TEXTOS ESCRITOS, NO 2º ANO DO ENSINO MÉDIO, DO COLÉGIO ESTADUAL PROFESSOR RAIMUNDINHO ANDRADE, DE CAMPO MAIOR – PI.



Antonio Ximenes de Oliveira*

RESUMO: Para a produção de textos faz-se necessário que se tenha um conhecimento e prática do que é leitura. Na proposta do MEC para o currículo de ensino Médio diz que o trabalho com produção de texto tem como finalidade formar escritores competentes capazes de produzir textos coerentes, coesos e eficazes. Para isso é necessária a aquisição de um conjunto de estratégias lingüísticas e cognitivas, fruto de uma prática continuada de produção dos mais variados textos. Através de nosso trabalho detectamos parecer não existir essa pratica continuada, pois o que vemos são alunos com dificuldades de escreverem ortograficamente correto e até mesmo que têm dificuldades em desenvolver qualquer tipo de texto, seja ele narrativo, descritivo ou injuntivo mesmo lhe dando motivação para tal fim. Para esta pesquisa tomamos conhecimentos de opiniões de autores diversos e que estão imbuídos no tema ora pesquisado. Contextualizando os alunos pesquisados no que diz esses autores, vê-se que escrever correto é um processo que carece de um acompanhamento bem de perto do professor para o aluno, conhecendo, inclusive a vida deste aluno.

PALAVRAS-CHAVES: Oralidade. Ensino Médio. Escrita.

ABASTRACT: For the production of texts it is done necessary that it is had a knowledge and practice of what is reading. In the proposal of MEC for the curriculum of Middle teaching says that the work with text production has as purpose to form competent writers capable to produce texts coherent, united and effective. For that it is necessary the acquisition of a group of linguistic and cognitive strategies, fruit of a continuous practice of production of the most varied texts. Through our work we detected to seem that not to exist he/she practices continuous, because the one that we see are students with difficulties of they write correct ortograficamente and even that you/they have difficulties in developing any text type, be him narrative, descriptive or same injuntivo giving him/her motivation for such end. For this research we became aware of several authors' opinions and that you/they are dipped in the theme now researched. Contextualizando the students researched in what those authors says, he/she sees himself that to write adequate it is a process that lacks an attendance well closely of the teacher for the student, knowing, besides this student's life.

KEYWORDS: Orality. Middle teaching. Writing.

01. INTRODUÇÃO
Marcuschi, em sua obra: Da Fala para a Escrita, atividades de retextualização, diz: “(...) não se pode afirmar que a fala é superior à escrita ou vice-versa. (...), portanto escreve-se o que se fala e fala-se o que se escreve. Se se tem uma boa oralidade, tem-se também uma boa escrita. Se falamos “pro mode que”, escrevemos “ pro mode que”. Se falamos “por causa de”, escrevemos “ por causa de”. Não há divisão entre fala e escrita, pois a escrita é a fala representada por sinais gráficos
Através do presente artigo verificou-se, ou pelo menos obtivemos alguns indícios do que leva o aluno vindo do ensino fundamental concluído sob o regime de suplência a ter dificuldade na produção de textos descritivos, narrativos, injuntivos e dissertativos, estes últimos, no desenvolvimento e argumentação de temas propostos, além da escrita “inadequada” de palavras de uso cotidiano, assim como separação silábica, erros de concordância verbal e nominal e a limitação do conhecimento de vocabulário.
Analisou-se nos textos produzidos por alunos da segunda série do ensino médio do Colégio Estadual Professor Raimundinho Andrade, turno vespertino, em Campo Maior-PI, oriundos do ensino fundamental sob o regime de suplência, em que o aluno cursa duas séries por ano letivo, fatores estes que conduzem esses alunos a escrever, de uma forma desviada da forma padrão, palavras como: afim, apartir, derepente, a queles, etc.
Observou-se as variações lingüísticas presentes nos textos produzidos pelos alunos pesquisados. Acompanhou-se o desenvolvimento de estudos desses alunos, assim como a vivência de sua linguagem em alguns meios sociais como na família e na escola. Ofereceremos subsídios para o desempenho docente na prática de produção de textos escritos.
O ensino-aprendizagem de produção de textos compreende um processo comunicativo em que se abrange a oralidade, a escrita e, para esta, se faz necessário o conhecimento de normas que a regem, cujas normas são adquiridas ao longo de vários anos de estudo da linguagem escrita.
Ao analisar as principais dificuldades encontradas no ato da produção textual, deve-se levar em consideração o meio produtor de quem escreve, sua oralidade, suas origens sociais, sua convivência cotidiana assim como seu interesse pelo ato de redigir, para que se tenha um conjunto de circunstâncias que se leve ao real conhecimento do aluno pelo professor de produção de textos.
O meio produtor do aluno, ou seja, as suas origens, composto de seu lar, sua família, seu ambiente de trabalho, a escola a comunidade em geral que lhe inserem conhecimentos que são absorvidos como regras para a oralidade, entretanto, essas “regras da fala”, não analisadas pelo falante, talvez por descuido ou por pouca importância dada pelo falante, é transferida para a forma verbal escrita de modo inesperado pelo educador, ou seja, o professor de redação, que passa a ditar regras para o ato da escrita.
A gramática normativa deve ser enfatizada no ato da escrita, não somente na ortografia, mas também nas demais regras para uma boa escrita, por essa mesma gramática já imposta, para que se tenha a linguagem de forma escrita adequada como também a linguagem informal, de modo que esta o seu escritor seja conhecedor e compreendedor de sua coloquialidade.
A habilidade lingüística de escrever é, portanto, esse processo que carece de ser trabalhado, ser aperfeiçoado, pois o aluno sabe escrever a seu modo, com “erros” e “acertos”, bastando, porém que se lhe adeqüe à linguagem escrita.
Para elaboração deste Artigo de pesquisa foi utilizado o método qualitativo, investigando as práticas sociais, dando-se ênfase nas interações cotidianas, porque o pesquisador é alvo que integra o processo de pesquisa.
A prática de produção de textos está em um ato que exige do professor um acompanhamento bem próximo do aluno, ou seja, uma interação aluno-professor-aluno. Não somente propondo títulos para que esse aluno desenvolva gêneros aleatoriamente, mecanicamente, somente para agradar, a não se sabe quem.
Diz a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que o ensino médio terá como finalidades a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental. Cabe, então, ao professor de redação aprofundar-se nos conhecimento do educando, vê suas origens sociais que deram origem à sua oralidade e que será transposta para a escrita de forma tal como a fala, até por que estes alunos vêm de classes sociais não habituadas à leitura, o que os leva, em alguns momentos, a escrever de forma “grosseira”, o som da palavra.
Conforme Marchuschi, ( Da fala para a Escrita, 2003: pág. 46), “...a passagem da fala para a escrita se dá naturalmente no plano dos processos de retextualização...” portanto, entendemos que o processo de retextualização do cognitivo para a linguagem escrita obedece, antes, a oralidade de quem adquire essa oralidade e da forma de aquisição pelo falante, considerando, como já dito, suas origens sociais.
Ainda vale ressaltar que uma parte desses alunos que produzem textos escritos, grafando palavras de maneira inadequada, são alunos que, pela necessidade de ajudarem suas famílias financeiramente, de se auto manterem economicamente, submeteram-se à modalidade de Educação de Jovens e Adultos, e esta forma adapta a educação do aluno, levando em consideração suas características, seus interesses, condições de vida e de trabalho – (LDB - § 1º, art. 37).
Ao se retextualizar a linguagem oral para a linguagem escrita, transcreve-se a fala, e sendo o falante inadvertido de regras impostas para o ato da escrita pela gramática normativa, que, embora se queira desprezá-la, mas se é cobrada, incorre em falta ao grafar inadequadamente palavras, locuções, segmentos frasais, fugindo até mesmo do próprio sentido que exprimem esses termos.
O conhecimento lingüístico, a falta de leitura e, ainda, talvez a falta de vontade, que provoca o tolhimento do pensamento do aluno ao produzir o texto escrito, devendo, transformar esse aluno num reprodutor de texto, num “copiador” do oral para o código escrito, devendo, portanto o professor, para sanar este problema, atuar diretamente com o aluno e em seu texto, fazendo as observações necessárias, advertindo o aluno sobre a grafia de algumas locuções de palavras e seu emprego, reestruturando o texto escrito.
Podemos dizer, assim como KOCK, (2003, pág. 13), em seu livro: O Texto e a construção de sentidos, que “a concepção de língua como representação do pensamento corresponde a de sujeito psicológico individual, dono de sua vontade e de suas ações”, e, nesta acepção enquadra-se o redator oriundo do ensino fundamental sob o regime de suplência, ora pesquisado, que deixa passar sua vontade para o texto. A mesma autora classifica três processos clássicos com relação ao sujeito, e a terceira dela, “o assujeitamento”, também pode ser contextualizada em nossos alunos objetos desta pesquisa.
Por conseguinte, conclui-se que o aluno do ensino fundamental sob o regime de suplência é um aluno “às condições que lhe são condições que lhe são impostas “assujeitados” pelo sistema social que os cercam, incluindo-se aí a educação, a família, a comunidade onde moram e o ambiente de trabalho de alguns deles, e que deve ser trabalhado pelo professor de produção de textos, além de professores de outras disciplinas, contextualizando, inclusive, temas relacionados à vida do aluno.

02. A escola

A escola se insere no contexto do aluno para buscar identificar e resolver os entraves que atrapalham a aquisição de uma boa escrita, Matoso Câmara Jr, [em seu livro Manual de Expressão Oral e Escrita, 21ª edição, pagina 62, Vozes, afirma “...nenhum professor e nenhuma gramática conseguirão fazer escrever esteticamente bem a um pessoa que ainda não saber pensar em termo de língua escrita...”. Então é neste contexto do pensar que cabe à escola intervir, apontando ao aluno que a aquisição de uma boa escrita, indicando os problemas principais na produção de um texto, para que , de posse desse conhecimento rompa a barreira que impede o aluno de desenvolver um bom texto e, conseqüentemente, uma boa escrita.
Em nossa pesquisa, o que pudemos verificar é que os alunos já estão arraigados no seu sistema social onde predomina a miséria, e em conseqüência dessa miséria existe uma adaptação do sistema comunicativo composto de um vocabulário “pobre”, condizente com a realidade dos pesquisados, induzindo-os a uma preguiça de raciocínio lógico.

03. A família
Um aspecto de suma relevância na prática de produção de texto é a origem familiar do aluno. É desse contexto, o principal, que o aluno absorve seus conhecimentos básicos. Como se trata de alunos, em sua maioria, oriundos de famílias analfabetas, detentoras de pouco letramento, habituados à oralidade “econômica”, composta de palavras limitadas, uma baixa apropriação do léxico, e, devido a isso, esses alunos têm dificuldades em argumentar, pois têm conhecimento reduzido a seu mundo.
O mundo familiar é a base na aquisição da oralidade, e esta oralidade obedece a uma ordem característica da própria oralidade. Quando da passagem dessa ordem para a ordem escrita, vê-se que não há uma preocupação do aluno em transformar seu texto, e é neste momento que a interferência do professor é necessária no processo de retextualização. “A retextualização não é um processo mecânico, já que a passagem da fala para a escrita não se dá naturalmente no processo de retextualização”. (Marchuschi, Da fala para a escrita: processo de retextualização)
04. A comunidade
Um outro aspecto relevante e interferente na produção textual de nossos alunos, além da família, é sua socialização.
É nesse contexto que nossos alunos acrescem seus conhecimentows, e, como se depende também das influências do meio de convivência, a aquisição de conhecimento, o meio social comunicativo desses alunos não é de grande importância na retextualização de sua oralidade, pois a exemplo, dos alunos pesquisados há alguns que participam até de grupos de jovens, de corais de igrejas, entretanto sentem dificuldades no ato de transpor sua fala para a escrita.
Koch, em O Texto e a Construção do Sentido, afirma que o conhecimento sócio-interacional é conhecimento sobre as ações verbais, isto é, sobre as formas de inter-ação através da linguagem”. E como a inter-ação dos alunos pesquisados está inserida apenas em seu meio, não extrapolando limites, vê-se aí, não um enriquecimento de vocabulário com palavras novas, mas apenas com vocábulos do mesmo meio, cujas palavras ainda não são do conhecimento de alguns, entretanto, no mesmo nível de linguagem dos demais.
A leitura tem muita importância para o ato da escrita quando se tem motivação para desenvolver uma boa produção textual, evitando, assim, erros comuns como os apontados no início deste trabalho, no entanto, dos alunos pesquisados, como já se afirmou, alguns fazem parte de corais de igreja e têm como função principal a leitura de cânticos, mas esses alunos continua na mesma incorrência, pois nota-se que, devido à radical oralidade a que estão assujeitados não se dão conta dos erros ortográficos que cometem ao produzirem textos.

“As grafias errôneas, às vezes, irrelevantes em si mesmas, ganham vulto e importância, por que são tomadas como índice da cultura geral de quem escreve, mostrando nele, indiretamente, pouco manuseio de leituras” (Jr. Joaquim Mattoso Câmara, 2002, 21ª edição, página 60 )

A escrita é filha da leitura. Se a leitura é bem feita, observada e interpretada tem-se uma boa escrita, mas como, reafirmando o que disse Matoso Câmara Júnior, a grafia errônea é tomada como índice da cultura geral de quem escreve, sendo assim, é, portanto, o caso dos mesmos alunos que já estão inseridos numa cultura em que não se dá muita importância à grafia das palavras.
Professores reclamam de que os alunos não demonstram interesse em produzir textos porque exige muito do cognitivo, pois o aluno ao produzir um texto faz-se necessário um prévio conhecimento do assunto a ser narrado, dissertado ou descrito e para que este conhecimento seja um ponto de partida no ato da produção textual tem que entrar em pauta a leitura que torna o aluno conhecedor do mundo.
A necessidade de auto manutenção financeira e, às vezes, até da manutenção financeira dos pais, essa necessidade tira o aluno da dedicação exclusiva à escola para inseri-lo no mercado de trabalho. E como “ a escrita é usada em contextos sociais básicos da vida cotidiana, em paralelo direto com a oralidade, este contexto do ambiente de trabalho não poderia deixar de ser diferente na aquisição da oralidade de nosso aluno. Por exemplo, o aluno que diz apartir, afim, derepente, também assim escreverá, pois no seu ambiente de trabalho não trabalha com palavras escritas, com leituras de textos escritos, mas empregando a oralidade para o ato da comunicação, sendo este o caso ora pesquisado.



05. O que o professor deve trabalhar no aluno

Embora os alunos tenham dificuldades em escrever palavras “corretas”, mas já têm algo a ser trabalhado, pois eles não vêm zerados à escola em termos de conhecimentos. Já existe em sua mente toda esta gama de leitura que lhe impôs a família, a comunidade, o ambiente de trabalho e até mesmo a própria escola, pois estamos falando de alunos cursandos do 2º ano do ensino médio. Não somente o professor de produção de textos e sim os professores de todas disciplinas devem trabalhar com os alunos a produção textual, mesmo professores de Matemática ou de Física, por que assim estará ensinado o aluno a narrar, argumentar ou descrever e dentro destes contextos estará também dando-lhe oportunidades para desenvolver um bom vocabulário e enriquecimento desse vocabulário, tornando o aluno conhecedor da fala e conhecedor da escrita e vendo que nenhuma se sobrepõe sobre a outra, mas que ambas se completam e que cada uma tem sua maneira própria de aparecer. Incentivar o aluno à leitura, mostrando e indicando-lhe normas, é essencial para a aquisição de uma boa escrita.
Matoso Câmara Jr, em seu Manual de Expressão Oral e Escrita, afirma que “Escrever bem resulta de uma técnica elaborada que tem de ser cuidadosamente adquirida “, e para se obter essa técnica é preciso que, em primeiro lugar que se tenha um interesse próprio e em segundo lugar buscá-lo pela aprendizagem através da leitura e da escrita e da observação, reafirmando, desta forma, a opinião de Matoso Câmara, na mesma obra “escrever bem depende de se falar bem, das qualidades naturais do individuo, do seu “jeito”, enfim, do saber se exprimir.” E como se falar bem se não se vive bem? O indivíduo retrata-se em sua linguagem, recebe influências psicológicas e sociais, individuais e coletivas. “A língua apresenta sempre uma diferenciação de acordo com as camadas sociais que a usam”. (Matoso Câmara Jr, 1.986), e isso constatamos através dos textos apresentados. Os alunos que vivem num ambiente onde se fala bem, não trabalha para estudar, esse aluno escreve melhor do que aqueles oriundos de famílias humildes, analfabetas, e que trabalham para se auto manterem financeiramente.

METODOLOGIA

Os sujeitos componentes desta pesquisa e que foram investigados, são alunos da segunda série do ensino médio da escola pública, do Colégio Estadual Professor Raimundinho Andrade, de campo Maior, com idade entre 15 e 20 anos, provenientes de classes de baixa renda, que residem na periferia urbana de Campo Maior-PI e pertencem a famílias que têm escolaridade não superior à 8ª série do ensino fundamental. Serão trabalhadas seis turmas compostas de 35 alunos, cada, do turno vespertino.
Para utilização da análise dos sujeitos foi feita a amostra causal simples, onde todos os sujeitos foram listados, numerados e, posteriormente, sorteados.
As técnicas usadas para coleta de dados foram a análise documental, (textos) que pesquisa elementos inerentes aos sujeitos, e também será empregado a técnica de observação, que permite o registro tal como ocorre, além da técnica de entrevista do sujeito.
O contato com o sujeito pesquisado foi feito através de aviso pessoal escrito.
Os dados colhidos, registrados em tabulação, usando nomes fictícios, através de um questionário previamente elaborado para posterior análise e conclusão.
Análise documental – textos dos teóricos no assunto e a produção escrita dos alunos para observar os fatores de oralidade que interferem na escrita.
O corpus é constituído de quarenta e cinco textos de tipologias e gêneros diferentes, e tirada uma amostra de 15 textos. Nos texto foram abordados temas diversificados norteados por palestras, reuniões, textos jornalísticos e temas-problema da própria escola. Desses textos houve uma verificação, de alguns, pelos próprios alunos, dando a estes alunos a condição de verificar as falhas existentes nos textos dos colegas e, posteriormente, abordadas na aula seguinte pelo professor, após o recolhimento dos textos.
O trabalho foi realizado nas próprias aulas de redação ministradas por este professor que ora apresenta este trabalho de pesquisa, classificando, a princípio, as principais dificuldades da escrita, pelos alunos, de palavras formadas por locuções, verificando, posteriormente que essa dificuldade vai mais além, o que foi constatado através da redação de palavras bastante faladas e pouco escritas por estes alunos.
Procuramos também investigar, ainda, como é a vida desses alunos na escola, na família, no trabalho e na comunidade onde residem, para identificarmos o que induz esses alunos a escreverem de tal forma como a pesquisada.
Como no trabalho focaliza, principalmente, alunos carentes ou que tenham necessidade de trabalharem para se auto manterem financeiramente, investigamos a origem escolar desses alunos, a forma de como cursaram o ensino fundamental maior. Investigamos professores que lecionaram para esses alunos no ensino fundamental, assim também como diretores e secretários da escola para nos informar o sistema de ensino dessas escolas, o turno e como eram avaliados esses alunos.
Mas o principal objetivo deste trabalho é buscar indícios que, naturalmente, levam nossos alunos a escreverem da foram que falam, sem se aterem às normas da escrita.


Comparando textos (resultados e discussões)
Vejamos três pequenos fragmentos de textos colhidos das produções pesquisadas, cujos fragmentos retratam o que até aqui afirmamos, embasados nas opiniões de Marchuschi, e outros autores, já referidos:
Texto 1.
“...as pessoa tem uma mania tal besta e idiotas de discriminarem outras só por causa de sua cor, e isto é um motivo que as pessoas tem de não gostarem das outras só que por causa de sua cor não quer dizer que elas não tem capacidade não fazer nada, as pessoas tratam o morreno como si ele fossi um bicho, um bandido as pessoas tem que se concientizar...”

Texto 2
“... apartir da currupição que existe em todos os lugares, estamos vendo que ninguém quer está mais afim de trabalhar, só quer roubar...”

Texto 3 “...Hoje à grande diferença entre um homem e uma mulher é que as mulheres estão evoluindo há anos atrais jamais uma mulher seria prezxidente de uma nação ou país; hoje as mulheres já estão evoluindo em todos os aspectos. Hoje já temos várias mulheres no poder político e social e econômico.
Também a grande diferença está no casamento o homem quer mandar, e até bater na mulher quando ela faíz algo que ele acha que ta errado mais nós mulheres não tamos mais aceitando essa situação......”

Analisando os fragmentos dos textos ora apresentados, vemos que o aluno tem capacidade de argumentar, de apresentar seu pensamento lógico, entretanto, verificamos que sua oralidade é passada para escrita tal como se fala. No texto 1 notamos que o aluno, às vezes, sabe a grafia correta de uma determinada palavra no contexto, como é o caso da palavra “as pessoa” e “ as pessoas” , o que verificamos que no primeiro momento o aluno deixou-se ser dominado pela sua oralidade, mas como sendo conhecedor da escrita correta, mais adiante, no mesmo texto escreve “as pessoas”, seguindo a ordem de concordância nominal. Vemos ainda, no mesmo texto, marcas do domínio da oralidade sobre o texto escrito quanto à ordem e grafia das palavras, o que se exemplifica nas grafias “morreno” (moreno), “ fossi,” (fosse) “concientizar” (conscientizar), além de ambigüidade e outras falhas fonéticas, etc.
No segundo fragmento de texto vê-se também a oralidade na grafia das palavras “afim” “apartir” e “currupição”, palavras de uso corriqueiro no meio social dos alunos pesquisados, o que corrobora o nosso trabalho de pesquisa. Notamos que há aí uma tendência a escrever palavras que são escritas em forma de locução, em que se usa duas ou mais palavras com um só sentido, juntas.
Já no terceiro texto o aluno expõe, à sua forma, as diferenças entre homem e mulher, os direitos da mulher, entretanto sente dificuldade em seguir as normas gramaticais de concordância, ortográficas e de pontuação, além de fonética.l o que se verifica no primeiro parágrafo ( ... as mulheres estão evoluindo/ há anos atraiz jamais uma mulher...), há aí uma necessidade de pontuação e de uma correção ortográfica, que, não pelo desconhecimento do aluno, mas por seu hábito quanto a locução oral passada para a escrita, o que se reforça no segundo parágrafo ao escrever “tá” e “tamos”, marcas fortes da oralidade.

“Qualquer um de nós senhor de um assunto, é em princípio, capaz de escrever sobre ele. Não há um jeito especial para a redação, ao contrário do que muita gente pensa. Há apenas uma falta de preparação inicial, que o esforço e a prática vencem”.(Jr. Joaquim Matoso Câmara, Manual de Expressão Oral e Escrita, 2000, p. 61).

Vista a afirmação de Matoso Câmara Jr, vem apenas confirmar o que já suspeitamos e exemplificamos com textos de nossos pesquisados, pois estes são senhores de um determinado assunto e são capazes de escrever sobre ele, entretanto esses alunos carecem de que sejam preparados para a produção de texto mediante a pratica textual escrita, não apenas orientada pelo professor da área de produção de texto, e sim pelos professores de todas as disciplinas, pois somente assim esses alunos se tornarão detentores de uma boa escrita, é o que identificamos após as estatísticas que abordaremos no parágrafo a seguir.
Apresentando a forma do trabalho de pesquisa ora discutido, norteado pela observação, e, posteriormente, para ratificação, por um questionário feito a cada aluno, não identificado, solicitamos, em várias aulas, produções textuais narrativas, dissertativas, descritas, injuntivas, tanto escritas como faladas, indagando aos alunos o que os levaria a escrever um texto da forma como se fala. Dos quarenta e cinco alunos pesquisados há uma predominância de alunos que cursaram o ensino fundamental sob o regime de suplência, ou sejam, cursaram duas séries em um ano, num total de 60% da turma, e que num total de 30% dos alunos trabalham para se auto-manterem e todos os alunos pesquisados moram na periferia, são filhos de analfabetos ou semi-analfabetos num total de 80% e que 5% desses alunos trabalham também para ajudarem seus pais financeiramente. Alguns desses alunos prestam serviços a igrejas como membros de corais, participam de ações da comunidade onde vivem, tais como associações de bairros, como membros integrantes dessas associações. Dos 30% dos alunos que não trabalham, todos vivem sob as expensas dos pais, tios, ou irmãs e 20% não têm incentivo à leitura, pré-requisito extremamente necessário à aquisição de uma boa escrita. Os 10% restante desses que não trabalham, o único acesso à leitura que têm é aos livros didáticos oferecidos pela escola, a seus irmãos, ou a cópias de textos exigidas pelos professores, pois no 2º ano do ensino médio ainda não se recebe livros didáticos, e esses dados se confirmam através do questionário/entrevista feito, já referido no início deste parágrafo
Veja a tabela

Analisando a tabela direcionada pela entrevista, vemos que o que mais induz os nossos pesquisados a transpor a oralidade para escrita da mesma forma como se fala são suas próprias raízes, ou seja, sua família, vindo, posteriormente, a forma como esses alunos receberam a escolaridade fundamental, seguida dos que trabalham, absorvendo em seus locais de trabalho a oralidade dos que ali convivem, confirmando, portanto o que está posto em discussão neste trabalho de pesquisa.
Um ponto que nos traz uma curiosidade é que os alunos ora pesquisados, que participam da comunidade mediante serviços prestados a igrejas, associações de bairros, apresentam o menor índice de erros ortográficos na escrita, ratificando, portanto, que a leitura é o ponto básico, é a origem para aquisição de uma boa escrita.
Verificamos ainda que 20% dos alunos produzem textos razoavelmente bem, entretanto ainda carece muito de serem trabalhados pelos professores porque esses alunos ainda apresentam algumas distorções, não na ortografia, mas na coesão, coerência assim no que se refere à gramática, como concordâncias, por exemplo.
Como se trata, em sua maioria, de alunos provenientes de um curso fundamental onde se ensinam jovens e adultos, investigamos alguns de seus professores e estes foram unânimes em afirmar que, por cursarem duas séries em um ano, sob o regime de suplência condicionado a regras impostas pela Secretaria Estadual de Educação do Piauí, a produção de texto é pouco ou nem trabalhada na sala-de-aula devido ao pouco tempo que se tem para exposição de conteúdo.
Durante nosso trabalho de pesquisa sobre esses alunos no que se refere a sua produção de textos, procuramos orientá-los para a leitura, motivando-os através de leitura de textos de revistas, de jornais e outros, conseguindo bons resultados, tendo, inclusive, abordado o mesmo assunto em textos pedidos no início da pesquisa, quando do término de nosso trabalho e constatamos que houve uma melhora quanto à grafia de palavras escritas em locuções com um só sentido, confirmando assim que para uma boa escrita é necessária muita leitura, incluindo-se aí a leitura de mundo onde se insere todos aqueles estão em volta dos pesquisados, ou seja, todos aqueles com quem os ora pesquisados tem contato e no cotidiano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para a aquisição de uma boa aprendizagem da construção textual o professor tem que conhecer o aluno, onde vive, com quem convive, o que faz, suas origens, e tomar a sua base, ou seja, a base textual da qual o aluno é detentor. Trabalhar o texto de acordo com o conhecimento do aluno e, conseqüentemente, ampliando o seu mundo pela amostra de novos horizontes dentro da linguagem textual.
Quando verificamos o questionário feitos aos alunos, constatamos que todo esse processo de aquisição da escrita está afetado pelo sistema social-comunitário e social-familiar de onde provém o aluno, acrescido pelas dificuldades encontradas na escola onde o professor já espera que este aluno, por está cursando o 2º ano do ensino médio, esteja apto à escritura dos mais variados textos, sem dificuldades, não considerando, o professor, a forma como esse aluno cursou as séries anteriores, seu modo de viver e até mesmo suas próprias características psicológicas.
Portanto, a produção textual tem que ser discutida na sala-de-aula, pela escola, não só pelo professor de redação, mas por professores de todas as disciplinas, havendo necessidade até de uma interdisciplinaridade convergente para o mesmo ponto que é falar e escrever bem, não deixando, entretanto, a abordagem do conteúdo particular de cada disciplina que poderá ser contextualizada dentro da produção de textos, até mesmo, reafirmando o já dito anteriormente, a Matemática e a Física.
Praticando a escrita obtém-se uma boa escrita e respectivamente uma boa oralidade, já que a escrita e a fala não são dicotômicas, são indivisíveis, o que já afirmamos no inicio da introdução deste trabalho, escreve-se próximo da fala.. Se se fala de modo informal, escreve-se informal também.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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VAL, Maria das Garças Costa. Redação e Textualidade. Martins Fontes. São Paulo. 1994.



QUADRO DEMONSTRATIVO DAS ATIVIDADES REALIZADAS NESTE ARTIGO DE PESQUISA.





ATIVIDADES

PERÍODO


2004

2005

Agosto
dezembro
junho
julho

Levantamento do assunto e início de estudo
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Levantamento bibliográfico e seleção de material
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Elaboração dos instrumentos para coleta de dados

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Análise e avaliação do artigo e reformulação


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Revisão e Redação final


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Digitação e encadernação


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Entrega do artigo



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QUESTIONARIO

AOS ALUNOS DO TURNO VESPERTINO DO COLÉGIO ESTADUAL PROF: RAIMUNDINHO ANDRADE.

Onde você mora?
Bairro ( ) centro ( ) zona rural ( ).

Qual a escolaridade de seus pais
Alfabetizados ( ) Analfabeto ( ) educação básica ( ) superior ( )

Seus pais trabalham? Em que?
___________________________________________________________________

Com quem convive em casa?
Com pais ( ) parentes ( ) com amigos ( )

Trabalha e estuda, ou só trabalha, ou só estuda?
___________________________________________________________________

Se trabalha, trabalha em que?
___________________________________________________________________

O tipo de ensino fundamental você cursou?
Normal ( ) suplência, duas series em um ano ( )

Em seu curso de ensino fundamental você praticava produção de texto:
Raramente ( ) freqüentemente ( ) não praticava produção de texto ( )

Na 1º serie do ensino médio, em suas produções de textos, era verificada em sala – de – aula, pelos professores, a grafia das palavras?
___________________________________________________________________

Você se policia quando escreve um texto para não escrevê-lo da mesma forma que fala?
______________________________________________________________________

Você ler :
com freqüência ( ) raramente ( ) somente quando exigido pelos professores
Revistas ( ) livros ( ) jornais outros ( ).
( ) não ler.
























A N E X O S













sexta-feira, 9 de março de 2007

Buscando a felicidade

BUSCANDO A FELICIDADE


A felicidade pode ser encontrada em momentos e situações em que você menos espera encontrá-la e que pode até passar despercebida.
Quando se tem um ideal, um sonho deve-se ir a busca da realização desse sonho, lutar por esse ideal para consegui-lo ou não, pois só o fato de busca essa conquista, mesmo não tendo conseguido êxito, pode tornar a pessoa feliz.
Ser feliz é você se desprender de seu eu automático e viver o seu eu natural intensamente, ainda que por pouco tempo.
A exemplo, certo jovem tinha um sonho de ser bastante conhecido, mesmo que apenas em sua cidade. Para aonde fosse queria ser reconhecido por alguém, pelos seus feitos. Era o seu sonho. Esse jovem era muito humilde; era de uma família paupérrima que, às vezes, não tinha nem o almoço. Pais analfabetos. Mas ele não desistiu. Trabalhou de carvoeiro, de pedreiro, de recepcionista, e com isso, aos poucos foi tornando-se conhecido da sociedade em que vivia. Isto não bastou. Ele tinha um sonho e queria realizá-lo. Sua ambição o fez galgar mais degraus na escada da vida, pois cursou ensino superior, adquiriu bom emprego e tornou-se mais conhecido. Desta vez por quase toda a sua comunidade, pois todos os cumprimentavam pelas ruas, pelas localidades por onde passava, entretanto dizia ainda não ter encontrado a felicidade.
Outra vez ouvi-o falar que naquele momento não era feliz, mas gostaria de morar numa casinha de sapé, à beira de um rio, acordar tarde, com o pé no chão, sair para pescar e conseguir o seu almoço, viver aquela a vida simples e humilde de onde veio, demonstrando que aquele jovem era feliz antes, mesmo com seus sofrimentos de miséria, mas, no entanto, não era consciente da felicidade que o cercava.
Assim sendo, após a leitura de vida desse jovem, conclui-se que a felicidade pode ser buscada dentro da própria “infelicidade”.


Antonio Ximenes de Oliveira

A distorção do entendimento do Superior Tribunal Federal transcrito na Súmula 584 sob a égide constitucional dos princípios da anterioridade e irretroatividade.

  Antonio Ximenes de Oliveira Júnior RESUMO : O presente artigo versa sobre a suposição acerca distorção entre os preceitos con...